terça-feira, 27 de outubro de 2009

एंट्रेविस्ता कांसदिदा अ रेविस्ता SE7E

Segue a entrevista no corpo do e-mail, esperamos suas respostas e desde já agradecemos sua colaboração com a nossa revista. Precisamos marcar um dia para tirarmos umas fotos suas, que dia estás na faculdade?



Nome:Sebastião Costa Andrade(Prof Sebah)

Idade:39 anos

Formação::Bacharel e mestre em Ciências Sociais e Doutor em Sociologia

Profissão:Professor Universitário.



1- Como são vistos, pelos olhos da antropologia, esses novos mecanismos da comunicação virtual como Blogs, Orkut, Twitter, fotolog, MSN?

R:Na verdade esses mecanismos de comunicação virtual não podem ter uma resposta definitiva a cerca da forma como a antropologia pode concebê-los,depente de que ponto de vista ou do conjunto de conceitos que a a antropologia pode construir para dar conta deste fenêmeno.Existem olhares antropológicos,particulamente,acredito,que esses fenêmenos virtuais,ainda precisam ser melhor conhecidos para se ter uma noção exata do impacto que eles podem causar ou não nas novas formas de comunicação e de sociabilidades decorrentes.

2- Como podemos usar essas as novas ferramentas da comunicação a favor da sociedade?

R:Não podemos cair na fascinação e encantos que as novas tecnologias provocam,é preciso ter em foco que mudanças sociais,políticas,econômicas,culturas,etc,possuem causas mútiplas.Assim,essas novas ferramentas não podem ser pensadas separadas desde contexto mais geral.Portanto,elas podem ser usadas de diversas formas,tanto num sentido mais enriquecedor,abrindo novas possibilidades comucacionais mais abertas e democráticas,como podem ser apenas mais algumas ferramentas de entretenimentos ,servindo aos interesses das "elites"políticas".Depende muito de quem as usa e como as usam.


3- Os meios de comunicação que fazem parte do cotidiano da nossa sociedade há muito tempo tem a tendência de cair em desuso, ser substituído pelas novas formas de comunicação ou elas dividirão espaço com outros formatos comunicacionais?

R:Certamente,a criação desses meios comucacionais abrem novas possibilidades ,mas isso não implica,necessariamente que os meios convencionais cairão em desuso.O cinema, o rádio por exemplo,embora tenham redefinido seus espaços,não foram superados pela televisão.



4- Dizem especialistas, que o cérebro nunca foi tão afetado tão rápido e dramaticamente como agora. E os jovens são o principal público alvo dessa grande quantidade de informação que circula na internet. Como a Antropologia explica isso? R:É preciso não confundir informação com formação.No primeiro caso,uma quantidade exagerada de infrmações,muitas vezes,pode conduzir o individuo ao embotamento,principalmento quando são desnecessarias.Para se ter uma relação autônoma com o mundo virtual é preciso uma formação crítica,uma capacidade de discernimento.O universo virtual por si só não promove essa capacidade,daí que é fundamentel o papel da educação.

5- Os sites de relacionamento vem transformando as relações humanas, dizem comumente que a internet ao mesmo tempo que aproxima algumas pessoas e afasta outras. Para você quais os malefícios e os benefícios das relações virtuais?R:Volto a dizer que os benefícios ou maléfícios dependem da forma como nós utilizamos esses canais comucacionais.É fundamental que relativizemos seus efeitos.Não devemos cair na tentação nem de endeusar nem demonisar a internet,mas observar quais seus múltiplos efeitos no mundo social.Em que medida ela cria ou não espaço para novas formas de convívio e sociabilidad?.Se estimula a criatividade ,a inventividade ou se torna as pessoas menos criativas e solitária?Essas questões nacassitam de uma ampla discussão.


6- As relações amorosas vem se transformando em relações meramente “virtuosas”? R:É possível que o mundo virtual abra novas possibilidades de relacionamentos sociais e afetivos,mas é bom lembrar que a internet expressa e de certa forma ,reproduz os hábitos,os símbolos,o imaginário,as representações daquilo que somos enquanto membros de determinada sociedade e cultura.Isso não implica que não devamos pensar em que medida as relações amorosas são ou não afetadas pelo mundo virtual.É preciso um estudo,ou váruios estudos mais aprofundados para se ter uma compreensão mais plausível deste fenômeno.


7- A internet pode ser uma ferramenta de solução para diversos problemas sociais ou ela é considerada como mais um problema, já que há desigualdade entre os que a utilizam e os que não a utilizam?

R:Olha,a internet não é fada nem uma vara de condão para fazer mágica.A solução dos problemas sociais e/ou políticos podem encontrar na internet ,talvez mais um instrumento de agilização.Solucionar esses problemas passa por outros caminhos.


8 - Sabemos que você é adepto ao mundo virtual. Entre o Orkut, os Blogs, o Twitter, o Fotolog, o MSN, entre tantos outros, quais são os seus prediletos? R:O orkut,os blogs e o msn são meus favoritos,embora saibamos que todos esses canais comucacionais elencados tem sua importância.Na verdade se eles são ou não significativos ou se são uma forma de "perder tempo" on line,se veiculamao invés de conhecimento ,nos engravidam de coisas fúteis,etc depende ,volto a dizer,da forma como nós utizamos.

9- A revolução do momento é o Twitter, para você ele pode ser considerado como mais um avanço do mundo virtual ou uma forma de “perder tempo” on-line?É mais um canal ,a perda de tempo ou não ,talvez, tenha menosma ver com a novidade,mas da forma como utilizamos adequadamente.

10 – Fique a vontade para acrescentar mais considerações sobre o tema!

Para encerrar gostaria de agradecer o obséquio e a gentileza por ter me convidado para conceder essa entrevista.Vale lembrar que esse mundo virtual,mesmo estando cada vez mais perfurando o tecido social e trazendo novos desafios para as ciências sociais e, particulamente ,para a antropologia,é ainda um terreno movediço.O olhar antropológico,precisa estudar mais.E esse desafio é fascinante.Isso move as ciências!!!Um outra coisa para finalizar.Desconfio muito dessa ideia que estamos na era da comunicação.Será que se comunicar significa apenas trocar mensagens e infomação?Ou a comunicação é um fenômeno mais rico,intricado e complexo?Enfim,muito obrigado espero ter conseguido senão responder ,pelo menos provocar reflexões.




Desde já agradecemos

Rackel Cardoso e Mayara Karla

quinta-feira, 2 de abril de 2009

IDENTIDADE BRASILEIRA...PROF SEBAH

O que faz o brasil, Brasil?
De Roberto DaMatta

Na linha de pesquisa da identidade nacional, DaMatta revela o Brasil, os brasileiros e sua cultura através de suas festas populares, manifestações religiosas, literatura e arte, desfiles carnavalescos e paradas militares, leis e regras (quando respeitadas e quando desobedecidas), costumes e esportes. Por que para ele, cultura é, sobretudo, produção simbólica, o modo de fazer as coisas, a redução do interesse público do cidadão à problemática familiar, às relações pessoais de compadrio e cordialidade.

Apesar de muito mais inspirado em Sérgio Buarque de Holanda, particularmente em Raízes do Brasil, Roberto DaMatta perpetua a


interpretação dualista da cultura brasileira inaugurada por Gilberto Freyre de Casa grande & sensala, Sobrados & mocambos e Ordem & progresso, principalmente com dois de seus principais livros:

Carnaval, malandros e heróis e A casa e a rua. Se a casa é espaço privado das relações familiares e da vida afetiva, dela se exclui a desordem e a competição do mercado da rua. Como se exclui o diabo da Igreja. Ou o interesse público das corporações. Ou a virtude das ruas, que pelas próprias expressões “mulher da rua”, “comida de rua” ou “menino de rua” já denota vício e degradação. Assim, o mercado é por definição vil e perigoso, como a etimologia do termo trabalho vem de tripaliu, instrumento de tortura de escravos na Roma antiga, sinônimo mesmo de castigo. Quando em casa, no mundo protegido das relações familiares, no máximo prestamos serviço, ao contrário da concepção saxã de work como obra ou atividade produtiva visando prosperidade. O patrão latino (de grande pai), diferentemente do lord inglês, não é apenas o senhorio explorador do trabalho de outrem, mas o titular dos direitos de propriedade de seu servo, responsável moral pela sua própria conduta e destino sociais, como na relação de pai e filho, o que embaça a própria relação econômica do contrato trabalhista.

No plano da convivência social, Roberto Da Matta evidencia o pastiche de nossa tolerância racial quando, citando Antonil, desde o século XVIII, afirmava que o Brasil é um inferno para os negros, um purgatório para os brancos e um paraíso para os mulatos. Ou traduzindo em termos de cidadania: nenhum direito e todos os deveres para os escravos negros; todos os direitos como privilégios para os brancos a custa dos deveres de manutenção da ordem; e um mundo utópico e marginal à lei para os mulatos que, aliás, se chamam assim por derivação de mulos, animais de carga ambíguos e híbridos por excelência, o que mais uma vez procura embaçar a relação injusta do racismo. O que já foi denunciado por Florestan Fernandes como o preconceito de ter preconceito, a ideologia predileta brasileira de mascarar o conflito do preto no branco e do servo e do senhor, perpetuando a desigualdade perante a lei. A própria comida brasileira básica, o feijão com arroz, passa a ser nossa grande metáfora social, uma vez que o costume é misturar o preto no branco, direitos e deveres, público e privado, diferentemente da exigência por discernimento do originário pão, pão, queijo, queijo europeu. Persistimos no entendimento do Estado enquanto mátria, uma vez que cabe à mulher o domínio da ordem da casa, dos modos à mesa, da hospitalidade e afeto sobre o domínio da rua, do mercado e do trabalho, da política e das leis do mundo masculino representado pela pátria. Daí a consagração da política como relação de compadrio, de companheiros (do latim, o que come pão junto) acesso às boquinhas e à teta da viúva do erário público.

Há uma relação de estranha verossimilhança entre desfiles de festas carnavalescas, paradas cívico-militares e procissões religiosas, o que evidencia mais o deslocamento do trajeto, a expiação, do que propriamente os diferentes fins, outra vez nos embaçando a compreensão das diversas instituições sociais. O que nos faz confundir igualdade perante leis universais (para todos) com a demagogia da igualdade social como forma de mascarar desigualdades na aplicação das leis, ou simplesmente privilégios. Entre o que pode e o que não pode, nos esmeramos em encontrar um jeito... de burlar as leis. A demonstrar esta nossa tradição, a citação do trecho final da carta de Pero Vaz de Caminha: "E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi. E, se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe, pois o desejo que tinha de tudo vos dizer, mo fez por assim pelo miúdo. E pois que, Senhor, é certo que, assim neste cargo que levo, como em qualquer outra coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer graça especial, mande vir da Ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro - o que dela receberei em muita mercê."

E partimos nós, desde então, a conceber a coisa pública de dentro de um engenho privado, de onde não partem ruas mas se congregam casa grande e senzalas, misturamos comeres, festas, leis, privilégios, interesses, direitos e deveres, sincretismos religiosos, erudito e popular, tudo pela utopia da conciliação e pelas máscaras do pastiche.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Você tem cultura?*

Roberto DAMatta**


Outro dia ouvi uma pessoa dizer que “Maria não tinha cultura”, era “ignorante
dos fatos básicos da política, economia e literatura”. Uma semana depois, no Museu
onde trabalho, conversava com alunos sobre “a cultura dos índios Apinayé de Goiás”,
que havia estudado de 1962 até 1976, quando publiquei um livro sobre eles (Um
mundo dividido). Refletindo sobre os dois usos de uma mesma palavra, decidi que esta
seria a melhor forma de discutir a idéia ou o conceito de cultura tal como nós,
estudantes da sociedade a concebemos. Ou, melhor ainda, apresentar algumas
noções sobre a cultura e o que ela quer dizer, não como uma simples palavra, mas
como uma categoria intelectual um conceito que pode nos ajudar a compreender
melhor o que acontece no mundo em nossa volta.
Retomemos os exemplos mencionados porque eles encerram os dois sentidos
mais comuns da palavra. No primeiro, usa-se cultura como sinônimo de sofisticação, de
sabedoria, de educação no sentido restrito do termo. Quer dizer, quando falamos que
“Maria não tem cultura”, e que “João é culto”, estamos nos referindo a um certo estado
educacional destas pessoas, querendo indicar com isto sua capacidade de
compreender ou organizar certos dados e situações. Cultura aqui é equivalente a
volume de leituras, a controle de informações, a títulos universitários e chega até
mesmo a ser confundido com inteligência, como se a habilidade para realizar certas
operações mentais e lógicas (que definem de fato a inteligência), fosse algo a ser
medido ou arbitrado pelo número de livros que uma pessoa leu, as línguas que pode
falar, ou ao quadros e pintores que pode, de memória, enumerar. Como uma espécie
de prova desta associação, temos o velho ditado informando que “cultura não traz
discernimento”... ou inteligência, como estou discutindo aqui. Neste sentido, cultura é
uma palavra usada para classificar as pessoas e, às vezes, grupos sociais, servindo
como uma arma discriminatória contra algum sexo, idade (“as gerações mais novas
são incultas”), etnia (“os pretos não tem cultura”) ou mesmo sociedades inteiras,
quando se diz que “os franceses são cultos e civilizados” em oposição aos americanos
que são “ignorantes e grosseiros”. Do mesmo modo é comum ouvir-se referências à
humanidade, cujos valores seguem tradições diferentes e desconhecidas, como a dos
índios, como sendo sociedades que estão “na Idade da Pedra” e se encontram em
“estágio cultural muito atrasado”. A palavra cultura, enquanto categoria do sensocomum,
ocupa como vemos um importante lugar no nosso acervo conceitual, ficando
lado-a-lado de outras, cujo uso na vida cotidiana é também muito comum. Estou me
lembrando da palavra “personalidade” que, tal como ocorre com a palavra “cultura”,
penetra o nosso vocabulário com dois sentidos bem diferenciados. No campo da
Psicologia, personalidade define o conjunto dos traços que caracterizam todos os seres

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humanos. É aquilo que singulariza todos e cada um de nós como uma pessoa
diferente, com interesses, capacidades e emoções particulares. Mas na vida diária,
personalidade é usada como um marco para algo desejável e invejável de uma pessoa.
Assim, certas pessoas teriam “personalidade" outras não! É comum se dizer que "João
tem personalidade” quando de fato se quer indicar que "João tem magnetismo", sendo
uma pessoa "com presença". Do mesmo modo, dizer que "João não tem
personalidade", quer apenas dizer que ele não é uma pessoa atraente ou inteligente.
Mas no fundo, todos temos personalidade, embora nem todos possamos ser
pessoas belas ou magnetizadoras como um artista da Novela das Oito. Mesmo urna
pessoa "sem personalidade" tem, paradoxalmente, personalidade na medida em que
ocupa um espaço social e físico e tem desejos e necessidades. Pode ser uma pessoa
sumamente apagada, mas ser assim é precisamente o traço marcante de sua
personalidade.
No caso do conceito de cultura ocorre o .mesmo, embora nem todos saibam
disso. De fato, quando um antropólogo social fala em "cultura", ele usa a palavra como
um conceito chave para a interpretação da vida social. Porque para nós ''cultura" não é
simplesmente um referente que marca uma hierarquia de "civilização" mas a maneira
de viver total de um grupo, sociedade, país ou pessoa. Cultura é, em Antropologia
Social e Sociologia, um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas
de um dado grupo pensam, classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmas.
É
justamente porque compartilham de parcelas importantes deste código ( a cultura) que
um conjunto de indivíduos com interesses e capacidades distintas e até mesmo
opostas, transformam-se num grupo e podem viver juntos sentindo-se parte de uma
mesma totalidade. Podem, assim, desenvolver relações entre si porque a cultura lhes
forneceu normas que dizem respeito aos modos, mais (ou menos) apropriados de
comportamento diante de certas situações. Por outro lado, a cultura não é um código
que se escolhe simplesmente. É algo que está dentro e fora de cada um de nós, como
as regras de um jogo de futebol, que permitem o entendimento do jogo e, também, a
ação de cada jogador, juiz, bandeirinha e torcida. Quer dizer, as regras que formam a
cultura (ou a cultura como regra) é algo que permite relacionar indivíduos entre si e o
próprio grupo com o ambiente onde vivem. Em geral, pensamos a cultura como algo
individual que as pessoas inventam, modificam e acrescentam na medida de sua
criatividade e poder. Daí falarmos que Fulano é mais culto que Sicrano e distinguirmos
formas de "cultura" supostamente mais avançadas ou preferidas que outras. Falamos
então em "alta cultura'' e "baixa cultura" ou “cultura popular", preferindo naturalmente
as formas sofisticadas que se confundem com a própria idéia de cultura. Assim,
teríamos a cultura e culturas particulares e adjetivadas.(popular, indígena, nordestina,
de classe baixa, etc.) como formas secundárias, incompletas e inferiores de vida social.
Mas a verdade
.é que todas as formas culturais ou todas as "sub-culturas” de uma sociedade são
equivalentes e, em geral, aprofundam algum aspecto importante que não pode ser
esgotado completamente por uma outra "sub-cultura". Quer dizer, existem gêneros de
cultura que são equivalentes a diferentes modos de sentir, celebrar, pensar e atuar
sobre o mundo e esses gêneros podem estar associados a certos segmentos sociais. 0
problema é que sempre que nos aproximamos de alguma forma de comportamento e
de pensamento diferente, tendemos a classificar a diferença hierarquicamente, que é
uma: forma de exclui-la. Um outro modo de perceber e enfrentar a diferença cultural é
tomar a diferença como um desvio, deixando de buscar seu papel numa totalidade.
Desta forma, podemos ver o carnaval como algo desviante de uma festa religiosa, sem
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nos darmos conta de que as festas religiosas e o carnaval guardam uma profunda
relação de complementaridade. Realmente, se no terreno da festa religiosa somos
marcados pelo mais profundo comedimento e respeito polo foco no "outro mundo” é
porque no carnaval podemos nos apresentar realizando o justo oposto.
Assim, o carnavalesco e o religioso não podem ser classificados em termos de superior
ou inferior ou como articulados a uma. "cultura autêntica" e superior, mas devem ser
vistos nas suas relações que são complementares. O que significa dizer que tanto há
cultura no carnaval quanto na procissão e nas festas cívicas, pois que cada uma delas
é um código capaz de permitir um julgamento e uma atuação sobre o mundo social no
Brasil. Como disse uma vez, essas festas nos revelam leituras da sociedade brasileira
por nós mesmos e é nesta direção que devemos discutir o conteúdo e a. forma de cada
cultura ou sub-cultura em uma sociedade (veja-se o meu livro, Carnavais; Malandros e
Heróis).
No sentido antropológico, portanto, a cultura é um conjunto de regras que nos
diz como o mundo pode e deve ser classificado. Ela, como os textos teatrais, não pode
prever completamente como iremos nos sentir em cada papel que devemos ou temos
necessariamente que desempenhar, mas indica maneiras gerais e exemplos de como
pessoas que viveram antes de nós os desempenharam. Mas isso não impede,
conforme sabemos, emoções. Do mesmo modo que um jogo de futebol com suas
regras fixas não impede renovadas emoções em cada .jogo.
É que as regras apenas indicam os limites e apontam os elementos e suas
combinações explícitas. O seu funcionamento e, sobretudo, o modo pelo qual elas
engendram novas combinações em situações concretas é algo que só a realidade pode
dizer. Porque embora cada cultura contenha um conjunto finito de regras, suas
possibilidades de atualização, expressão e reação em situações concretas, são
infinitas.
Apresentada assim, a cultura parece ser um bom instrumento para compreender
as diferenças entre. os homens e as sociedades. Elas não seriam dadas, de uma vez
por todas, por meio de um meio geográfico ou de uma raça, como diziam os estudiosos
do passado, mas em diferentes configurações ou relações que cada sociedade
estabelece no decorrer de sua
história. Mas é importante acentuar que a base destas configurações, é sempre um
repertório comum de potencialidades. Algumas sociedades desenvolveram algumas
dessas potencialidades mais e melhor do que outras, mas isso não significa que elas
sejam mais pervertidas ou mais adiantadas. 0 que isso parece indicar é, antes de mais
nada, o enorme potencial que cada cultura encerra, como elemento plástico, capaz de
receber as variações e motivações dos seus membros, bem como os desafios
externos. Nosso sistema caminhou na direção de um poderoso controle sobre a
natureza, mas isso é apenas um traço entre muitos outros. Há sociedades na
Amazônia onde o controle da natureza é muito pobre, mas onde existe urna enorme
sabedoria relativa ao equilíbrio entre os homens e os grupos cujos interesses são
divergentes. 0 respeito pela vida que todas as sociedades indígenas nos apresentam,
de modo tão vivo, pois que os animais são seres incluídos na formação e discussão de
sua moralidade e sistema político, parece se constituir não em exemplo de ignorância e
indigência lógica, mas em verdadeira lição, pois respeitar a vida deve certamente incluir
toda a vida e não apenas a vida humana. Hoje estamos mais conscientes do preço que
pagamos pela exploração desenfreada do mundo natural sem a necessária moralidade
que nos liga inevitavelmente às plantas, aos animais, aos rios e aos mares
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Realmente, pela escala destas sociedades tribais, somos uma sociedade de
bárbaros, incapazes de compreender .o significado profundo dos elos que nos ligam
com todo o mundo em escala. global. Pois é assim que pensam os índios e por isso
que as suas histórias são povoadas de animais que falam e homens que se
transformam em animais. Conosco, são as máquinas que tomam esse lugar...
O conceito de cultura, ou, a cultura como conceito, então, permite uma
perspectiva mais consciente de nós mesmos. Precisamente porque diz que não há
homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais como
entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente
existiriam sociedades superiores e inferiores. Mesmo diante de formas culturais
aparentemente irracionais, cruéis ou pervertidas, existe o homem a entendê-las – ainda
que seja para evitá-las, como fazemos com o crime - é uma. tarefa inevitável que faz
parte da condição de ser humano e viver num universo marcado e demarcado pela
cultura. Em outras palavras, a cultura permite traduzir melhor a diferença entre nós e os
outros e, assim fazendo, resgatar a nossa humanidade no outro e a do outro em nós
mesmos. Num mundo como o nosso, tão pequeno pela comunicação em escala
planetária, isso me parece muito importante. Porque já não se trata somente de fabricar
mais e mais automóveis, conforme pensávamos em 1950, mas desenvolver nossa
capacidade para enxergar melhores caminhos para os pobres, os marginais e os
oprimidos. E isso só se faz com uma atitude aberta para as formas e configurações
sociais que, como revela o conceito de cultura, estão dentro e fora de nós.
Num país como o nosso, onde as formas hierarquizantes de classificação
cultural sempre foram dominantes, onde a elite sempre esteve disposta a autoflagelar-
se dizendo que não temos uma cultura, nada mais saudável do que esse
exercício antropológico de descobrir que a fórmula negativa - esse dizer que não temos
cultura é, paradoxalmente, um modo de agir cultural que deve ser visto, pesado e
talvez substituído por uma fórmula mais confiante no nosso futuro e nas nossas
potencialidades.
.


* Artigo publicado no Jornal da Embratel, RJ, 2004.
** Roberto Da Matta, pesquisador e professor de Antropologia Social do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. É
autor dos livros: Ensaios de Antropologia Estrutural (Editora Vozes), Um Mundo Dividido (Editora Vozes) , O
Inverso do Carnaval (Edições Pinakotheke), Carnavais, Malandros e Heróis (ZaharEditores) e Relativizando: Uma
introdução à Antropologia Social (Editora Vozes). É autor de inúmeros artigos publicados em revistas
especializadas nacionais e estrangeiras. Foi professor visitante na Universidade de Winsconsin, Madison (Estados
Unidos) e na Universidade de Cambridge (Inglaterra). Tem realizado cursos e conferências na maioria das
universidades brasileiras, americanas e européias

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A Internet e o novo papel do jornalista

A Internet e o novo papel do jornalista
Inês Mendes Moreira Aroso




Índice
Competências do jornalista
O fim do jornalista?
Bibliografia




Competências do jornalista
O jornalismo on-line influencia os vários aspectos da realidade jornalística. Um desses elementos, ou mesmo o principal, é o jornalista que, também ele, é profundamente afectado. Em primeiro lugar, constatamos, de acordo com Carl Stepp (1996), que a Internet não só está a criar novas formas de jornalismo, mas também de jornalistas. Nesta linha de ideias, Maria Teresa Sandoval Martín (2000) defende que a Internet não só está mudando os modos de acesso à informação pelos utilizadores, o modelo de comunicação tradicional, a economia mundial e as empresas de comunicação, mas também o perfil do jornalista. De acordo com Pavlik (2001), são três as mutações no papel do jornalista: ``O jornalista tem que ser mais do que um contador de factos, o papel do jornalista como intérprete dos acontecimentos será expandido e em parte modificado e os jornalistas on-line terão um papel central na ligação entre as comunidades''.

Perante uma nova realidade profissional, então, as competências que são exigidas ao jornalista, como é natural, também mudam. A mudança começa na própria formação dos novos profissionais do jornalismo, que, de acordo com o Arturo Merayo Pérez (1997), passará pela capacidade multimédia: ``Todos os meios serão multimeios, a verdadeira especialidade dos futuros profissionais da informação será a capacidade de trabalho em todos eles, seleccionando e interpretando informação com a suficiente criatividade para dispor agradavelmente essa informação''. Doug Millison (1999) adianta ainda: ``Os jornalistas on-line devem aprender algumas ferramentas básicas da Web: como usar a Internet para pesquisar informação, programação básica de HTML para saberem construir páginas Web, produção digital de áudio e vídeo e técnicas de programação na Web relacionadas, para adicionar elementos multimédia ao texto jornalístico''.

Concha Edo (2000) aborda as competências multimédia do jornalista on-line, falando de uma ``conversão dos jornalistas em ``fornecedores de conteúdos'', tanto para jornais, como para rádio, televisão e Internet. É o jornalismo multimédia, que exige escrever a notícia para a Internet, com as correspondentes actualizações, e contá-la nos meios audiovisuais, compartilhando toda a informação e renunciando aos exclusivos e às reportagens, por falta de tempo para tal''. Partilhando desta opinião, Carl Sessions Stepp (1996) afiança: ``Capacidade e versatilidade definem os membros desta nova espécie, mais do que a ligação a um meio específico. Eles podem pensar e trabalhar ao longo do amplo campo de acção da imprensa, da televisão e até das novas tecnologias da informação''. Também Ruth Gersh (Cit. in STEPP, 1996), quando esboça o perfil de competências de um jornalista na era da Internet, salienta o aspecto multimédia: ``Pessoas com uma mistura de aptidões tradicionais e futuristas, que conseguem trabalhar com imaginação tanto textos como fotos, áudio e vídeo. Então, o jornalista on-line acaba por ser um jornalista multimédia (MARTÍN, 2000). Christopher Harper (1998) exemplifica: ``Na edição electrónica, o repórter leva consigo uma caneta, um bloco de notas, um gravador de áudio, uma máquina fotográfica digital e por vezes uma câmara de filmar de uso doméstico''.

Com outro tipo de análise, Eric Meyer (2001) contrapõe dois tipos de competências - a tecnológica e a profissional - dando preferência a esta última vertente: ``Os conhecimentos técnicos são importantes. No entanto, mais importante é uma compreensão sólida de como procurar informação significativa, organizá-la de modo eficiente e apresentá-la de forma a que a audiência a aprecie''. Ou seja, para este autor, mais importante do que dominar a parte tecnológica é deter uma sólida base profissional como jornalista e, em consequência, possuir pensamento crítico e perceber as técnicas de escrita. A coincidir com esta análise estão algumas dicas de J. D. Lasica (1997) relativas às aptidões do jornalista on-line: ``Interiorizar os princípios do jornalismo - os jornalistas on-line devem ter as mesmas competências que os dos outros media: boas técnicas de entrevista, capacidades sólidas de pesquisa, tenacidade, velocidade, rigor, flexibilidade e uma escrita atractiva''. E acrescenta: ``Aprender o que é que funciona na Internet - como melhorar a notícia através de fóruns, inquéritos, materiais de background, documentos de suporte, áudio, vídeo, mapas e gráficos interactivos, arquivos pesquisáveis, entre outros''. Outros requisitos, segundo o autor já citado, são também: ``Ter uma paixão pelo jornalismo on-line, aprender as ferramentas do novo meio, desenvolver um conjunto versátil de capacidades, estudar HTML e Web Design, participar em discussões on-line, estar a par dos desenvolvimentos''.

Quanto a Furio Colombo (1998), este é breve a descrever as competências necessárias ao novo jornalista: ``Mais do que nunca, necessitarão de sentido moral, aliado a uma astúcia técnica cada vez mais apurada''. Por outro lado, Leah Gentry (Cir. In HARPER, 1998) apresenta certas regras básicas para quem trabalha como jornalista num meio on-line, que fazem sobressair a necessidade de uma verificação rigorosa dos factos: ``Todas as regras habituais do jornalismo devem ser aplicadas: a pesquisa e a edição devem ser sólidas, os factos têm que ser verificados e re-verificados. Assim, não deve haver publicação instantânea: ninguém deve colocar on-line um texto que não tenha passado pelo processo de edição''.

Por sua vez, Lizy Zamora (2001) faz a seguinte enunciação das características e atitudes deste novo jornalista, resumindo todas as atrás descritas: ``O jornalista não deve ser o profissional de um só meio de comunicação; deve adiantar-se às necessidades da audiência, explorando os fóruns de discussão, o chat e a possibilidade de correio electrónico para satisfazer esta procura; será um especialista no uso das novas tecnologias; deverá contar com suficientes critérios para apurar a veracidade das informações que obtenha na rede; a interactividade do jornalista será outra fonte de informação; deverá ter uma grande habilidade, inteligência e capacidade de selecção para procurar e encontrar a informação que necessita; terá que fortalecer os princípios éticos e deontológicos; conforme os factos vão ocorrendo; resumirá à audiência o mais importante do momento; deverá ter uma maior preparação, tanto em Ciências da Informação como em cultura geral''.


O fim do jornalista?
No cenário actual, o próprio jornalismo é posto, de certa forma, em causa, pois a Internet, como observa Lasica (1997), ``tem o potencial de reformular os fundamentos do jornalismo, do mesmo modo que a televisão alterou as regras da profissão''. No entanto, partilhamos da opinião de Helder Bastos (2000) quando este defende que ``o jornalismo terá todas as condições para ser reinventado, em vez de, como proclamam alguns, ser gradualmente eliminado''. Na verdade, uma das questões mais em voga é a do fim (?) do jornalista como gatekeeper. Tal como presencia o autor supracitado, ``muitos autores projectam as actuais tendências num futuro não muito longínquo para concluírem da falência, a prazo, dos actuais modelos jornalísticos ou, pelo contrário, salientarem a cada vez maior pertinência da função jornalística num mundo a caminhar a passos largos para a saturação informacional'' (BASTOS, 2000). Esta última ideia parece-nos a mais viável, mas, apesar disso, há quem defenda que o papel de gatekeeper do jornalista acabou. Neste sentido, Jim Hall (2001) anuncia: ``Os papéis que o jornalismo atribuiu a sim mesmo em meados do século dezanove, com a força do recentemente adquirido profissionalismo, como gatekeeper, agenda-setter e filtro noticioso, estão todos em risco quando as suas fontes primárias se tornaram acessíveis às audiências''. Acrescenta o mesmo autor: ``A partir do momento em que os leitores se tornam os seus próprios contadores de histórias, o papel de gatekeeper passa, em grande parte, do jornalista para eles''. Mas acrescenta: ``Os jornalistas adicionaram a função de cartógrafo ao seu papel e, na biblioteca universal que é a Internet, também se tornaram autenticadores e desenhadores para aqueles que seguem os mapas que eles desenham'' (HALL, 2001).

Doug Millison (1999) pertence ao grupo de autores que defende a perenidade do valor da função jornalística, pois prevê: ``Uma edição e filtragem de informação de confiança e com qualidade torna-se ainda mais importante na Internet, onde qualquer pessoa pode publicar qualquer coisa e fazer com que pareça importante''. No entanto, há mudanças: ``Em vez de encontrar ou descobrir informação, a tarefa agora é seleccionar, na amálgama informativa disponível, a informação mais importante'' (HERBERT, 2000).

Há um outro grupo de autores que não fica indiferente às transformações operadas na função do jornalista, mas sem ditar um dos dois extremos - o fim ou a continuação como até aqui da função do gatekeeper - vendo antes a sua mudança. Neste sentido, Ricardo Jorge Pinto e Jorge Pedro Sousa (1998) atentam: ``o jornalista perdeu o monopólio do jogo informativo. A sua função de filtro de informação ficou agora condicionada pela entrada em cena de mecanismos de divulgação comunicativa ao acesso de todos''. No entanto, os mesmos autores preconizam a reconquista da função do gatekeeper por parte do jornalista, com as necessárias adaptações ao ambiente da Internet: ``Essa poderá ser uma das funções futuras dos jornalistas: filtrar a informação na Net. Os seus órgãos de comunicação social poderiam ser as portas de entrada na Internet para quem está interessado em informação credível e útil''. E fazem até uma sugestão: ``As empresas jornalísticas, além de disponibilizarem conteúdos, teriam de ofertar motores de busca onde os links apontados fossem apenas aqueles que contivessem informação efectivamente credível e útil''. Quanto a Helder Bastos (2000), este escuda assim o papel do jornalista: ``Certas aptidões próprias desenvolvidas pelo jornalista tornar-se-ão cruciais. As capacidades de selecção, síntese, hierarquização, enquadramento e mesmo de personalização da notícia poderão ser insubstituíveis no ciberespaço, onde fenómenos como o da sobre-informação se vêem exponencialmente agravados''. Aliás, Sylvia Moretzsohn (2000) também se refere a uma revalorização da mediação: ``Não será o caso de retomar estes conceitos tais como foram formulados originalmente, mas é inevitável sublinhar o papel decisivo do jornalismo como prática de mediação discursiva: é através dela que podemos tomar conhecimento do que ocorre no mundo. O ponto de partida, portanto, é a recuperação do papel do jornalista como mediador''.

Mais do que desaparecer, a função de gatekeeper tende a sofrer alterações. Deste modo, Jane Singer (1998) atenta para o facto do próprio conceito de gatekeeper estar a mudar e a adaptar-se à nova realidade, mas não a desaparecer: ``As pessoas na redacção estão a modificar a sua definição de gatekeeper, passando a incorporar as noções de controlo de qualidade e significado. Em particular, eles vêem o seu papel como o de intérpretes credíveis de uma quantidade de informação disponível sem precedentes''. Isto significa que os jornalistas vêem-se mais como intérpretes do que como guardiões da informação e que esta é a sua principal função.

Elias Gonçalves (2000) também reconhece: ``O jornalismo digital, aproveitando-se da descentralização generalizada da produção de conhecimento entre os membros de uma comunidade, faz com que a função do jornalista se estenda cada vez mais a aspectos de uma actividade de moderação e hierarquização de factos gerados nos mais distintos pontos da rede''. Enfim, como ressalta Katherine Fulton (2000), ``o jornalismo e os jornalistas não vão desaparecer. Como fornecedores de significado e contexto entre todo o ruído, eles podem tornar-me mais essenciais do que nunca. Eles terão novas funções, tais como facilitar boas conversações on-line, organizar arquivos e agregar e reformular informação recolhida através de muitas fontes''.

Então, com o jornalismo on-line ocorre uma revalorização da mediação do jornalista. Saber explicar e dar uma interpretação dos acontecimentos será algo cada vez mais valorizado: ``Com todas as fontes de informação que existem agora, serão os jornais on-line que melhor expliquem as notícias os mais bem sucedidos'', avança Jonathan Dube (2000). Na mesma linha de pensamento, Furio Colombo (1998) faz a seguinte analogia: ``Os peritos e os profissionais da informação, neste quadro infinitamente maior, mais povoado, mais rico, mais perigoso, apresentar-se-ão como os voluntários de um patrulhamento ideal, os capacetes azuis que tentam retirar a ordem da desordem, sequências racionais do caos, e um constante trabalho de identificação e denúncia da desinformação que se torna possível numa base enormíssima''.

A sobrecarga informativa é uma realidade: ``Este crescimento exponencial de mensagens trocadas, de informação e serviços disponíveis através da Rede, apesar de potenciar a partilha de conhecimentos, a troca de informações e a oferta de serviços, coloca também dificuldades de selecção, remetendo para a necessidade de existirem mecanismos de filtragem que baixem a entropia e assegurem confiança'' (ANTUNES, CASTRO e MEALHA, 2001). É aqui que entra o jornalista! Pensando desta forma, Lizy Zamora (2001) assevera: ``O trabalho do jornalista será muito importante nesta nova era. Será o responsável por hierarquizar, organizar e apresentar a informação que interesse a cada pessoa segundo as suas necessidades''. Ainda sobre o papel de gatekeeper do jornalista, considera: ``Este trabalho de filtragem caberá ao jornalista. O ser humano não dispõe de tempo, nem tem a formação suficiente, para interpretar a informação''. E acrescenta: ``O utilizador terá a necessidade de contar com alguém que seleccione, informe, interprete e julgue os feitos que acontecem no mundo''. Anabela Gradim (2000) defende que ``todas estas formas de aceder à informação fazem sentido, e vão naturalmente coexistir. Mas não ameaçam os jornalistas, nem as suas publicações''. A mesma autora, exemplifica: ``um motor de busca ou uma base de dados não podem substituir este serviço inestimável que um jornal presta aos leitores. Podem, e muito bem, complementá-lo.''

Existe ainda um outro aspecto que torna imprescindível o jornalista, na opinião de Juan Antonio Giner (Cit. in PÉREZ, 1997): ``Os meios são como os restaurantes: a diferença entre eles não radica na decoração nem sequer no serviço, mas sim nos cozinheiros - há redacções que servem a informação crua e há redacções que dominam a arte de elaborar a informação''. O referido autor valoriza o papel do jornalista, sumarizando: ``A vantagem competitiva por excelência será a distinta capacidade de refinar informação, valor acrescentado que se medirá segundo o produto final que os profissionais sejam capazes de obter a partir de una matéria prima que é comum a quase todos''. Por outro lado, segundo outros autores, os jornalistas são necessários para dar credibilidade à informação. Roger Fidler (1998) admite: ``Na era da comunicação digital, as características mais valorizadas dos meios do futuro seguramente serão a sua credibilidade e os seus laços com as comunidades que servem''. Ao encontro desta ideia, Anabela Gradim (2000) declara que ``o maior capital de um jornal, e o único do jornalista, é o seu brand name, uma reputação profissional impoluta, a credibilidade junto dos leitores e a confiança conquistada ao longo dos anos''. Marcia Perencin Tondato (1997) corrobora: ``Espera-se que, como em um supermercado, a origem da informação, a marca, seja um parâmetro no qual o usuário poderia confiar ao seleccionar as suas consultas''. Perante esta realidade, o jornalista torna-se indispensável para dar credibilidade ao meio, acontecendo aquilo em que Doug Millison (1999) acredita: ``Agora, mais do que nunca, precisamos de jornalistas profissionais que ajudem a distinguir o trigo de notícias de confiança e opiniões credíveis do joio de rumores e propaganda que abundam na Internet'', o que vai ao encontro da ideia que os jornalistas são uma peça fundamental para se construir a credibilidade dos jornais on-line.


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